UMA RADIOGRAFIA DA IGREJA NO CONTEXTO
ATUAL
Neste breve diagnóstico sobre a igreja hodierna, apontarei
o que considero a ponta do iceberg da sua conjuntura atual, não me atrevendo a
medir as profundezas, detendo-me apenas naquilo que consigo ver e que está na
superfície. Posso sim, conjecturar com a
analogia da arca de Noé: Se não fosse o
juízo lá fora, ninguém suportaria o cheio dentro. Já faz tempo que a igreja está em declínio
espiritual. Uma prova disso é o descaso com a pregação – que está cada vez mais
descartada e menosprezada em favor de novos métodos, tais como dramatização,
danças, imponentes atrações e outras formas de entretenimento. Esses novos
métodos são supostamente mais “eficazes”,
pois atraem grandes multidões. Hoje o sucesso de uma igreja não é mais medido
pela santidade e busca de caráter e vida cristã autênticos, mas é medido pela
quantidade de pessoas que vão aos cultos.
Em séculos passados, cidades, povoados e aldeias inteiras
eram abaladas pela pregação da palavra de Deus e as mudanças eram percebidas em
todos os segmentos da sociedade; havia um batismo de arrependimento e mudanças imediatas
e radicais de comportamento aconteciam. Leis eram promulgadas em resposta a
veemência da pregação que apontava os valores, que prezava a família e a moral
social. Hoje quanto mais cresce o
número de igrejas, cresce em proporções maiores a depravação moral, a
corrupção, o descaso e a banalização do sagrado, mostrando com isso que o crescimento
exponencial da igreja, nos dias de hoje, não tem sido um fator catalisador de
transformação de vida e conduta segundo a Palavra de Deus.
A grande maioria dos líderes e pastores tem demonstrado
crer que as prioridades da igreja apresentadas em Atos 2.42 que são a doutrina dos apóstolos, a comunhão, o
partir do pão e as orações, constituem uma agenda deficiente e ultrapassada
para a igreja de nossos dias. Muitos estão permitindo que a dramatização, a
música profissionalizada (o estrelismo gospel), o entretenimento e programas
semelhantes substituam o culto e a comunhão bíblica tradicional. Essas
distrações da pós-modernidade estagnaram e silenciaram a igreja. O nosso grito
passou a ser a portas fechadas e por causa desse silêncio e omissão, a igreja
condescendeu com a contracultura deste mundo vil e em quase todos os países não
se pode mais proclamar de modo claro e simples a verdade do Evangelho e,
acredite, em muitos casos, esse ato é visto como ingênuo, ofensivo e ineficaz.
Num contexto geral, grande parte da igreja atual tem
menosprezado a importância da doutrina bíblica. O modernismo abriu a porta para
o liberalismo teológico desenfreado, o relativismo moral estabeleceu-se em
alguns púlpitos e sorrateiramente entrou no seio da família, e como era de se
esperar, o resultado é uma incredulidade sem precedentes. Muitos cristãos e até
mesmo uma grande parte de pastores e líderes parecem inconscientes a respeito
dos sérios perigos que ameaçam a igreja por dentro e não estão se dando conta de
que a história está se repetindo, isto é, os ataques mais devastadores
desferidos contra a fé cristã sempre começaram com erros sutis e pequenas
concessões surgidas dentro da própria igreja.
As mudanças constantes dos valores, fruto desta
pós-modernidade tem deixado a liderança eclesiástica perdida não sabendo a quem
agradar. E é aí onde mora o grande perigo, pois a liderança e a igreja geral
não estão percebendo que
se agradarmos ao homem vamos desagradar a Deus e se desagradarmos a Deus pouco
interessa a quem estejamos agradando. Meus queridos, a igreja
não pode se dar ao luxo de vacilar nestes últimos dias que antecedem a vinda de
Jesus. Não podemos negociar a verdade, nem abrandar o holismo do evangelho. Se
fizermos parceria com o mundo e os seus abomináveis conceitos e valores
efêmeros, nos constituímos inimigos de Deus. Se nos dispusermos a acreditar que
os métodos e artifícios mundanos é que trazem resultados satisfatórios para
nossas congregações, estaremos abrindo mão da direção e do poder do Espírito
Santo em nossas vidas.
Outro fator preocupante nos dias de hoje é o estrelismo
gospel que tomou conta da igreja – a música meramente profissionalizante. Não
se canta mais para levar vidas ao pés da cruz. O que importa mesmo é arrastar
multidões e encher as igrejas, pois este é o termômetro que mede o sucesso de
muitas delas nos dias atuais. É só chamar uma estrela do mundo gospel e pronto.
Podemos chegar a uma conclusão quanto a este fenômeno: quando não há mais unção do alto
no púlpito, lama cai bem. Refiro-me àqueles que cantam apenas por mero
interesse financeiro e visam apenas obter sucesso às custas das igrejas.
E
aí, o show termina e o templo fica cheio de vidas vazias, fruto de uma
musicalidade medíocre e poesia pobre e, pior, montada em cima de interesse
meramente comercial e financeiro. A grande soma de dinheiro cobrado por estes
cantores, dinheiro muitas vezes proveniente dos dízimos e ofertas trazidos por
aqueles que realmente amam a causa do Mestre, poderia ser aplicado em projetos
missionários para o avanço do evangelho, na melhoria da qualidade de vida de
obreiros dessas mesmas igrejas e até mesmo nos próprios músicos da igreja que
dão o seu melhor como voluntários. Mas não! Muitos líderes têm levado suas
denominações a serem ministradas por esses oportunistas do mundo gospel e não
se dão conta de que boa parte da música cantada por essas “estrelas errantes” é feita por pessoas não convertidas, sendo raras
as que são forjadas na fornalha da comunhão e da intimidade com o Espírito
Santo. A liderança está caindo no mesmo erro e simplismo dos dias do profeta
Amós que denunciou o conceito de Deus a respeito da liturgia e o culto daqueles
dias. Assim nos diz o texto:
“Aborreço, desprezo
as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me dão nenhum prazer. E,
ainda que me ofereçais holocaustos e ofertas de manjares, não me agradarei
delas, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de mim o estrépito dos teus
cânticos; porque não ouvirei as melodias dos teus instrumentos”. Amós
5.21-23
Enfim, conscientes ou
não, somos nós pastores que estamos “criando” as “estrelas errantes” (Judas v.13) do mundo gospel e consequentemente absorvendo
os seus artifícios egoístas e venenosos. E como é de se esperar, o louvor que
cura e liberta está cada vez mais distante de nossos púlpitos. A música hoje,
diferentemente da esperada pela Palavra de Deus, só atrai em vez de libertar. Sabemos que a música tem o poder de
trazer quebrantamento e conversão como nos diz o Salmo 40.3: “E me pôs nos
lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas
coisas, temerão e confiarão no SENHOR”.
A
mim me parece que, em muitas ocasiões não mais podemos dizer que “Deus habita no meio do louvor do seu povo”.
A prova disso é a atenção que é dada quando a Palavra vai ser ministrada; o
tempo que restou é pouquíssimo, o pregador tem que resumir a mensagem e se ele
orar de olhos fechados, ao abri-los, metade do público foi embora ou está sendo
distraída com alguma coisa nos bastidores. A “estrela” da noite com certeza já está em uma sala qualquer ou a
caminho do aeroporto, porque tem outro e sempre “grande compromisso”. O meu alerta é que nós líderes e pastores,
sejamos criteriosos a bem de nossas orações feitas em favor da igreja. A
Palavra já nos alerta sobre isto:
Ora, o fim de todas as coisas está
próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações. 1
Pedro 4.7
Apesar
de tudo e de nós mesmos, temos ainda um modelo para nos espelhar. O mundo está
para conhecer uma comunidade, uma igreja do quilate da igreja de Atos
2.41-47; 4.32-37. Uma igreja que nada temia a não ser o pecado, que nada
desejava a não ser Deus e que a todo custo pregava a palavra com ousadia e amor
para que pudesse de alguma maneira resgatar o maior número de perdidos para o
Reino de Deus. Eu creio que este quadro ainda pode ser revertido por mim e por
você. Meu maior sonho é ver e fazer parte de uma igreja encharcada de amor, de
comunhão, de ousadia e poder. Sabem quando podemos influenciar a sociedade com
o evangelho e quando o nosso testemunho e influência se tornam eficazes? Quando o povo entrar nos nossos templos e sair impactados com o que somos
e vivemos e não pela beleza dos nossos templos. Nada vale entrar no
lugar de nossas reuniões e dizer: Que
templo! Que casa! Que cadeiras! Que
bancos! E em seguida comentar: Que
gente antipática e fria! Que gente individualista e metida! Que gente sem amor!
Finalizo
esta reflexão afirmando que não sou defensor de uma igreja estagnada. Desejo e
trabalho por uma igreja dinâmica que se atualize sem modernizar-se, se
contextualize, mas não se comprometa com o mundo. Minha denuncia é a de quem
está cansado de uma igreja que prima por uma filosofia que banaliza Deus e sua
Palavra. Pode ser que outros estejam tão cansados quanto eu. Se for o seu caso,
convido-o então a mudarmos nossa agenda; rompermos com a roda viva religiosa
que suga nossas energias; voltarmos ao primeiro amor e orarmos para que o
Senhor livre Sua igreja do mesmo tipo de desmoronamento que levou a igreja de
séculos passados ao mundanismo e à incredulidade e esgotou seu vigor
espiritual. Oremos para que não nasça uma geração vacinada contra a igreja, e
que venha a dizer como disse Mahatma Gandhi para os ingleses: “O vosso
Cristo eu quero, o que não quero é o vosso cristianismo”.
PR Roilton Alves
Comentários
Postar um comentário